21 de outubro de 2014
[Thorsten Schröder, Die Zeit
Online 20/10/2014. Tradução/adaptação.: ZPA.]
Sem pretender nada com
comida, Rob Rhinehart (25) trabalhava com dois parceiros num outro projeto,
cujo capital inicial, de U$170.000, ia se esgotando sem que conseguissem
divisar os resultados. Restavam ainda U$70.000 quando decidiram tentar, até
onde o dinheiro alcançasse, com outras ideias de software. [...]
“Comer era um grande ônus”,
postou Rhinehart num blog. Precisar de comida lhe dava nos nervos. O tempo
gasto com comprar e preparar alimentos, ele queria usá-lo com mais inteligência.
Começou a se informar pelo site oficial do Ministério da Saúde dos EUA,
adquiriu pela internet pílulas e pós com os nutrientes necessários e bateu-os
com água num liquidificador. O resultado passou a ser chamado de Soylent, em
referência a “Soylent Green”, um clássico de ficção científica, no qual o
governo mantém a população à base de pílulas. Há ano e meio, Rhinehart se
alimenta dessa beberagem – e há tempos deixou de ser o único a fazê-lo.
Divulgada a experiência,
centenas de comentários perguntavam pela receita e ofereciam sugestões.
Estimulados, ele e seus parceiros passaram a se concentrar única e
exclusivamente no aprimoramento da produção de Soylent. Em duas horas de
campanha na net, conseguiram os U$100.000 necessários. Nesse meio tempo, Rhinehart
remeteu as primeiras encomendas a mais de 25 mil incentivadores nos EUA. [...]
Na verdade, o mercado há anos
está cheio de drinks para substituir as refeições. Mas, diferentemente de
outros produtos, Soylent não se dirige a cultores do corpo ou adeptos de
dietas, tendo por alvo a geração dos hackers, que acham um fardo pensar no
almoço de cada dia. […]
A ração diária vem numa
simples embalagem branca, acompanhada por um vidrinho de óleo – design que
muito bem se adequa à chamada geração-Apple. Misturado com água, Soylent provê
o corpo com 2 mil calorias – nem corpo pesado nem sensação de fome, promete
Rhinehart, e isso por apenas U$10 ao dia. Tendo atraído o apoio de
celebridades, novas encomendas diárias vão atingindo a marca dos U$10.000,
fazendo com que a firma já se apresente como lucrativa. Programadores de San
Francisco divulgaram um página de receitas, na qual cada usuário pode compor
sua própria fórmula, perfeitamente ajustada ao respectivo peso e ao
respectivamente necessário consumo de calorias.
Experts, no entanto, ainda se
mantêm céticos. “Existe o risco da subnutrição, se a pessoa se alimenta por
longo tempo exclusivamente de Soylent”, esclarece Monika Reinagel. Rob
Rhinehart é engenheiro, e não cientista da alimentação, e muita coisa pode ter
lhe escapado. “É claro que Soylent, em comparação com a alimentação de muitos
americanos, representa um upgrade”, diz a pesquisadora. Mas a firma não dialoga
diretamente com essas pessoas.
Mesmo assim, Rhinehart se
tornou um darling do ‘food-hacking’. Também Josh Tetrick (33) se conta entre os
techies, pessoas cujo único objetivo é otimizar a nossa comida. Ele pretende
substituir a totalidade da produção de ovos nos EUA por similares que até têm
sabor e se comportam como ovos autênticos, mas não são ovos. Sua firma vem
elaborando um produto, é claro que tudo em segredo e patenteado, que vai poder
ser confundido com o original.
Mas em primeiro lugar vem o
conforto. Soylent, de acordo com o material de divulgação, deve substituir as
refeições, que só servem para encher o estômago. Um vídeo lança a pergunta:
“Como seria se você nunca mais precisasse pensar em comida? No lugar de um
lanche rápido ou de uma pizza congelada, por que não Soylent? E em vez de uma
longa e nada saudável pausa para o almoço, os programadores no Vale do Silício,
graças a Rhinehart, têm o direito de seguir trabalhando. Enquanto isso, a
fórmula foi levemente melhorada, com a bebida ficando menos doce e passando a
conter enzimas para facilitar a digestão. Soylent 1.1 é seu novo nome de
batismo.
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