sexta-feira, 19 de junho de 2015

Soylent: para nunca mais pensar em comida

21 de outubro de 2014




[Thorsten Schröder, Die Zeit Online 20/10/2014. Tradução/adaptação.: ZPA.]

Sem pretender nada com comida, Rob Rhinehart (25) trabalhava com dois parceiros num outro projeto, cujo capital inicial, de U$170.000, ia se esgotando sem que conseguissem divisar os resultados. Restavam ainda U$70.000 quando decidiram tentar, até onde o dinheiro alcançasse, com outras ideias de software. [...]

“Comer era um grande ônus”, postou Rhinehart num blog. Precisar de comida lhe dava nos nervos. O tempo gasto com comprar e preparar alimentos, ele queria usá-lo com mais inteligência. Começou a se informar pelo site oficial do Ministério da Saúde dos EUA, adquiriu pela internet pílulas e pós com os nutrientes necessários e bateu-os com água num liquidificador. O resultado passou a ser chamado de Soylent, em referência a “Soylent Green”, um clássico de ficção científica, no qual o governo mantém a população à base de pílulas. Há ano e meio, Rhinehart se alimenta dessa beberagem – e há tempos deixou de ser o único a fazê-lo.

Divulgada a experiência, centenas de comentários perguntavam pela receita e ofereciam sugestões. Estimulados, ele e seus parceiros passaram a se concentrar única e exclusivamente no aprimoramento da produção de Soylent. Em duas horas de campanha na net, conseguiram os U$100.000 necessários. Nesse meio tempo, Rhinehart remeteu as primeiras encomendas a mais de 25 mil incentivadores nos EUA. [...]

Na verdade, o mercado há anos está cheio de drinks para substituir as refeições. Mas, diferentemente de outros produtos, Soylent não se dirige a cultores do corpo ou adeptos de dietas, tendo por alvo a geração dos hackers, que acham um fardo pensar no almoço de cada dia. […]

A ração diária vem numa simples embalagem branca, acompanhada por um vidrinho de óleo – design que muito bem se adequa à chamada geração-Apple. Misturado com água, Soylent provê o corpo com 2 mil calorias – nem corpo pesado nem sensação de fome, promete Rhinehart, e isso por apenas U$10 ao dia. Tendo atraído o apoio de celebridades, novas encomendas diárias vão atingindo a marca dos U$10.000, fazendo com que a firma já se apresente como lucrativa. Programadores de San Francisco divulgaram um página de receitas, na qual cada usuário pode compor sua própria fórmula, perfeitamente ajustada ao respectivo peso e ao respectivamente necessário consumo de calorias. 

Experts, no entanto, ainda se mantêm céticos. “Existe o risco da subnutrição, se a pessoa se alimenta por longo tempo exclusivamente de Soylent”, esclarece Monika Reinagel. Rob Rhinehart é engenheiro, e não cientista da alimentação, e muita coisa pode ter lhe escapado. “É claro que Soylent, em comparação com a alimentação de muitos americanos, representa um upgrade”, diz a pesquisadora. Mas a firma não dialoga diretamente com essas pessoas.

Mesmo assim, Rhinehart se tornou um darling do ‘food-hacking’. Também Josh Tetrick (33) se conta entre os techies, pessoas cujo único objetivo é otimizar a nossa comida. Ele pretende substituir a totalidade da produção de ovos nos EUA por similares que até têm sabor e se comportam como ovos autênticos, mas não são ovos. Sua firma vem elaborando um produto, é claro que tudo em segredo e patenteado, que vai poder ser confundido com o original.


Mas em primeiro lugar vem o conforto. Soylent, de acordo com o material de divulgação, deve substituir as refeições, que só servem para encher o estômago. Um vídeo lança a pergunta: “Como seria se você nunca mais precisasse pensar em comida? No lugar de um lanche rápido ou de uma pizza congelada, por que não Soylent? E em vez de uma longa e nada saudável pausa para o almoço, os programadores no Vale do Silício, graças a Rhinehart, têm o direito de seguir trabalhando. Enquanto isso, a fórmula foi levemente melhorada, com a bebida ficando menos doce e passando a conter enzimas para facilitar a digestão. Soylent 1.1 é seu novo nome de batismo. 


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