Oitavo filme de Wes Anderson (Os excêntricos
Tenenbaums, Moonrise Kingdom), “O Grande Hotel Budapeste” teve estreia mundial
na abertura do Festival Internacional de Cinema de Berlim 2014, quando
conquistou o Urso de Prata. Foram decisivas para a feitura do roteiro as
narrativas de Stefan Zweig, escritor mais lido e traduzido no mundo na primeira
metade do século passado. No que se segue, Paul Katzenberger (Süddeutsche
Zeitung) entrevista o cineasta quando do lançamento do filme na Alemanha.
Tradução: Zé Pedro Antunes.
Seu filme festeja os velhos tempos e sugere um certo
luto por eles terem passado inexoravelmente.
Quando começamos a escrever o
roteiro, a ação se dava no presente. Aliás, na França e na Inglaterra, onde
estávamos na época. Nisso me caíram nas mãos os livros de Stefan Zweig e
comecei a devorá-los, ao reconhecer uma ligação entre o conteúdo deles e minha
própria vida.
Os livros de Zweig surgiram há quase 100 anos. Que
paralelos encontrou entre os primórdios do século 20 e este início de século
21?
Já o primeiro capítulo do
primeiro romance dele que eu li, “Coração Impaciente”, descreve uma situação
que me é familiar: Em busca de paz, um escritor conhecido vai a uma localidade
fora de Viena, que acredita menos badalada do que antes. Mas logo na chegada
topa com um conhecido, enfronhado nas fofocas da cidade e cioso de suas boas
relações. Para não ser inamistoso, acaba se deixando envolver. Nisso, entra um
notório herói de guerra, a quem o conhecido pronto volta sua atenção. Mas,
visivelmente irritado, o herói lhes dá as costas.
Quase como no trato usual entre as celebridades, hoje,
com os fãs ou pessoas que se fazem de importantes. No ramo cinematográfico, por
exemplo.
Já vivi exatamente a mesma
situação e conheço bem personagens como esses de Zweig. Quando conto uma
história do passado, não me distancio de minhas próprias experiências e
observações, é a mesma relação que tenho com uma história no presente.
Sobre a inspiração em filmes antigos, há alguma
ligação intencional com “O Silêncio” de Ingmar Bergman? Ambos se passam num
hotel, em um lugar imaginário.
Por um lado, “O Silêncio” tem
ritmo bastante diferente. Por outro, vejo paralelos interessantes: O drama de
Bergman também se passa num lugar fictício na Europa, no qual mesmo a língua é
inventada. Estamos num grande hotel, em cujos amplos corredores esse jovem
perambula. Tudo é extraordinariamente misterioso. Os corredores nós fomos
buscar em “O Silêncio”. Se quiser, também a atmosfera desse clássico nos serviu
de inspiração. [...]
Sobre pagar mal os atores, Bill Murray tocou no
assunto durante o Festival de Berlim, achei que era piada. Mas vejo que era a
sério mesmo.
Foi uma piada, mas ele tem
razão. Se tivéssemos pago a todos o que normalmente recebem, não daria. Só os
gastos com o pessoal consumiriam o orçamento inteiro.
Como conseguiu atrair esse elenco inacreditável?
Se eu disser que sabia
exatamente como, estaria mentindo. Mas sempre ajuda dizer: “Foi o que acertamos
para o último filme, e nele estão os que toparam fazê-lo.” E aí vem a reação:
“Ok, se fulano fez, faço também eu”.
Curioso comportamento de manada, em pessoas que só
fazem se comportar como algo muito especial. Inclusive pelos salários
astronômicos.
Não dou a mínima para as
finanças deles. São muito mais ricos do que eu. O primeiro que fiz nesses
moldes foi “Rushmore”, com o Bill Murray. Ele acabara de ganhar 9 milhões de
dólares por “O Dia da Marmota” (1993). Esse era o meu orçamento inteiro.
Perguntei-lhe o que daria para fazer. Disse que ficaria satisfeito se lhe
pagassem de acordo com as tarifas de ator: 9 mil dólares. Assim surgiu o meu
sistema de salário mínimo. Bill Murray contribuiu substancialmente para isso,
deve isso a si mesmo.
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