sábado, 6 de junho de 2015

{grandes mistérios}

6 de maio de 2014
por José Pedro Antunes

Sob o logo da revista, “Super Interessante”, é entre chaves que se lê o título da série. Já comentei sobre o impacto de ter dado com Hitler, numa banca, quase a me furar os olhos com o braço em riste, num dos itens da encenação com que pretendeu abarcar o mundo, sendo ele diretor, roteirista, protagonista, figurinista, para afinal se destacar como o impagável puxador de uma polca-enredo do ariano doido. Depois houve ainda um número dedicado à erva maldita. E duvido que, na editora, algum maluco não tenha imaginado a folha de cânhamo, a um pequeno movimento produzido pelo leitor, súbito a se enrolar em “tora” generosa, num efeito 3-D dos mais uruguaios.

Com esses dois números, já eu me havia tornado adicto. Mesmo por não ter muito mais o que esperar das bancas remanescentes, que ora voltam a ser point de colecionadores de figurinhas. Com o sumiço da Bravo!, as alternativas não me atraem sobremaneira. Mais perto disso estariam a Cult e a Piauí, mas não sem que me causem uma certa espécie, não só pela diagramação pesada, mas pela massacrante extensão dos textos, quase sempre de mais ou menos indigesta inspiração acadêmica. Ou não terei eu desenvolvido a cara de conteúdo com que devidamente enfrentá-los?

Pois o número que agora chega a lume, e a meu ver não deveria ficar encalhado, vem desvendar “o lado oculto da verdade” – essa a subscrição sob a isca principal: “As Maiores Conspirações”. Claro, leitor, eu não perderia a oportunidade de lhe descrever o capcioso invólucro. Digamos que os olhos deem primeiro com as Torres Gêmeas ainda perfeitamente eretas, apenas uma delas já a ostentar uma cabeleira de fumaça, negra e funesta. E, à extrema esquerda da ainda não atingida, um aviãozinho que, a um leve movimento das mãos do leitor, dela se porá a caminho. Um movimento mais e “a maior obra de arte jamais realizada”, falo com Stockhausen, se terá consumado. E já as labaredas como que te saltarão aos olhos para todo o sempre incrédulos, graças a um truque que data de minha longínqua infância.


capa da revista Superinteressante - conspirações


Como se hoje fosse, me acorre à memória o aparecimento de uns chaveirinhos com figurinhas semoventes. Ah, canhestro e tosco holograma, pré-histórica geringoncinha que nos punha boquiabertos! E que o pós-tudo, erroneamente julguei, teria que ter relegado aos lampejos fugazes de uma mente ainda não de todo destituída de lembranças. Mas eis que o truque, de novo e súbito, se faz “Tera interessante”, engodo para atrair dinossauros inaptos para o abandono de arraigadas dependências.

Mas a revista e a série não se reduzem às capas saborosamente arcaizantes, sequiosas de repetir, em movimento quase atávico, a descoberta do gelo em Macondo. Fantásticas a diagramação e a inventividade dos textos, para nada que o leitor ainda não tenha lido ou ouvido antes e alhures. Só que, quando já não importa o ‘que’, ainda e sempre nos resta saciar, com o ‘como’, a larica espiritual. O rol das matérias é pra teórico da conspiração nenhum botar reparo: são atentados e mortes (o 11 de setembro, João Paulo 1º e João Paulo 2º, JK, Marylin, Princesa Diana e o Rei Lagarto), complôs mundiais (maconha, carro elétrico, sistema financeiro, conspiração judaica e Disney), armas secretas (agentes-zumbis, Haarp e Aids) e fatos históricos (Jesus, Hitler, Erik von Däniken e o Homem na Lua).


Agora, não custa imaginar um número dedicado à Copa. Na capa, um dos estádios padrão-Fifa – o Itaquerão, por mais próximo e problemático –, entornos primorosamente saneados e pacificados, a alçar-se do solo pátrio na velocidade da pulga, portões se abrindo para receber a turbamulta, que, incontinenti e em continência (“pátria de chuteiras”), a plenos pulmões e momentosamente a capela, em verde-amarela fúria, vociferará o “virumdum” de olho... (aonde mesmo?)



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