por José Pedro Antunes
Sob o logo da revista, “Super
Interessante”, é entre chaves que se lê o título da série. Já comentei sobre o
impacto de ter dado com Hitler, numa banca, quase a me furar os olhos com o
braço em riste, num dos itens da encenação com que pretendeu abarcar o mundo,
sendo ele diretor, roteirista, protagonista, figurinista, para afinal se
destacar como o impagável puxador de uma polca-enredo do ariano doido. Depois
houve ainda um número dedicado à erva maldita. E duvido que, na editora, algum
maluco não tenha imaginado a folha de cânhamo, a um pequeno movimento produzido
pelo leitor, súbito a se enrolar em “tora” generosa, num efeito 3-D dos mais
uruguaios.
Com esses dois números, já eu
me havia tornado adicto. Mesmo por não ter muito mais o que esperar das bancas
remanescentes, que ora voltam a ser point
de colecionadores de figurinhas. Com o sumiço da Bravo!, as alternativas não me
atraem sobremaneira. Mais perto disso estariam a Cult e a Piauí, mas não sem
que me causem uma certa espécie, não só pela diagramação pesada, mas pela
massacrante extensão dos textos, quase sempre de mais ou menos indigesta
inspiração acadêmica. Ou não terei eu desenvolvido a cara de conteúdo com que
devidamente enfrentá-los?
Pois o número que agora chega
a lume, e a meu ver não deveria ficar encalhado, vem desvendar “o lado oculto
da verdade” – essa a subscrição sob a isca principal: “As Maiores
Conspirações”. Claro, leitor, eu não perderia a oportunidade de lhe descrever o
capcioso invólucro. Digamos que os olhos deem primeiro com as Torres Gêmeas
ainda perfeitamente eretas, apenas uma delas já a ostentar uma cabeleira de
fumaça, negra e funesta. E, à extrema esquerda da ainda não atingida, um
aviãozinho que, a um leve movimento das mãos do leitor, dela se porá a caminho.
Um movimento mais e “a maior obra de arte jamais realizada”, falo com
Stockhausen, se terá consumado. E já as labaredas como que te saltarão aos
olhos para todo o sempre incrédulos, graças a um truque que data de minha longínqua
infância.
Como se hoje fosse, me acorre
à memória o aparecimento de uns chaveirinhos com figurinhas semoventes. Ah,
canhestro e tosco holograma, pré-histórica geringoncinha que nos punha
boquiabertos! E que o pós-tudo, erroneamente julguei, teria que ter relegado
aos lampejos fugazes de uma mente ainda não de todo destituída de lembranças.
Mas eis que o truque, de novo e súbito, se faz “Tera interessante”, engodo para
atrair dinossauros inaptos para o abandono de arraigadas dependências.
Mas a revista e a série não
se reduzem às capas saborosamente arcaizantes, sequiosas de repetir, em
movimento quase atávico, a descoberta do gelo em Macondo. Fantásticas a
diagramação e a inventividade dos textos, para nada que o leitor ainda não
tenha lido ou ouvido antes e alhures. Só que, quando já não importa o ‘que’,
ainda e sempre nos resta saciar, com o ‘como’, a larica espiritual. O rol das
matérias é pra teórico da conspiração nenhum botar reparo: são atentados e
mortes (o 11 de setembro, João Paulo 1º e João Paulo 2º, JK, Marylin, Princesa
Diana e o Rei Lagarto), complôs mundiais (maconha, carro elétrico, sistema
financeiro, conspiração judaica e Disney), armas secretas (agentes-zumbis,
Haarp e Aids) e fatos históricos (Jesus, Hitler, Erik von Däniken e o Homem na
Lua).
Agora, não custa imaginar um
número dedicado à Copa. Na capa, um dos estádios padrão-Fifa – o Itaquerão, por
mais próximo e problemático –, entornos primorosamente saneados e pacificados,
a alçar-se do solo pátrio na velocidade da pulga, portões se abrindo para
receber a turbamulta, que, incontinenti e em continência (“pátria de
chuteiras”), a plenos pulmões e momentosamente a capela, em verde-amarela
fúria, vociferará o “virumdum” de olho... (aonde mesmo?)
Nenhum comentário:
Postar um comentário