por José Pedro Antunes
Quase impossível não falar em
futebol. Ufa! E os estrangeiros só podiam estar encantados com o país, a
acolhida, o bom-humor, a cordialidade, a alegria contagiante, a ginga, essas
coisas todas que sempre nos distinguiram no concerto das nações. Quanto ao que
acontece nos gramados, resistir quem há de? É chuva de gols. O primeiro empate,
um modorrento zero a zero, só aconteceu no jogo de número 13, frisava o
comentarista, sem saber muito bem o que auferir da numerologia. Para o
ex-boleiro inglês Gary Lineker: “Todos os jogos têm sido formidáveis. Se até a
Suíça conseguiu divertir, será realmente um torneio infernal.” Tradutor
inspirado esse. “Formidável” não é qualquer um que arranca do limbo assim, sem
mais.
E como em época de Copa muito
se aprende sobre o país e as cidades-sede, a estreia da seleção dos Estados
Unidos na capital do Rio Grande do Norte terá sido, se não mera, uma feliz
coincidência. A cidade foi base militar americana durante a Segunda Guerra
Mundial. De acordo com Luis Eduardo Suassuna, professor de história da UFRN:
“Muitos costumes americanos foram incorporados pela população de Natal. Aqui
foi a primeira cidade do Brasil a ter Coca-Cola, chicletes, calça jeans.”
Para além da decepção com o
“exoesqueleto”, 16 segundos para quase não ser visto, é uma enormidade o que se
fala em “esqueletos”. Parece que nos armários dos partidos políticos o difícil
mesmo é encontrar algo que não seja. Impressionável, um articulista alemão vê
surgir, nos movimentos anti-Copa, “um novo ícone”: um boneco com uma caveira
gigante “atarraxada no lugar da cabeça”. Mas não é hora de fazer a caveira da
tecnologia. Ela teve, sim, o seu grande momento. Pela primeira vez na história
do futebol mundial, em contraste com a indevassável opacidade na atual condução
de sua entidade máxima, um gol foi validado por um tira-teima high-tech. E
posto que uma decisão errônea sempre arde no dos outros, a manchete não fez por
menos: “Entrou ou não?” Falta agora bolar algo que meça a dramaticidade em
quedas de atacantes na zona do agrião.
Mas nem todo estrangeiro
volta para casa tão deslumbrado com o que viu. Aqui uma anotação do compositor
americano John Cage, em 1985, citada por Jocy de Oliveira: “Ao chegar a São
Paulo, levaram-me a um concerto sem pé nem cabeça de um homem barbudo, de
longos cabelos brancos, tocando uma música que doía nos ouvidos de tão forte, e
após esse desastre ainda me arrastaram para comer uma comida preta chamada
feijoada!” O leitor terá adivinhado? Era ele mesmo, o albino Hermeto em ação.
Quando a Jovem-Guarda passou
a suplantar a Velha-Guarda, a cantora Marlene, da “Média-Guarda”, passou a
atuar em peças de teatro. Outro dia li o anúncio de uma apresentação da Zezé
Motta, que, pelo caminho inverso, se encaixa nesse perfil, que um projeto
toscamente chama de “cantriz”. Eu ainda fico com “cantatriz”, neologismo que,
mesmo sem ser lá grande coisa e sem ter entrado efetivamente em uso, ao menos
preserva as raízes que nele se conjuminaram.
Para quem pretende
reconstruir a confiança com o Brasil, dizer que a Venezuela “é um caso
emblemático de enfraquecimento das instituições democráticas” não é um bom
começo de papo. Pois ninguém avisou o vice-presidente americano. Hey, Joe!
Justo quando as oposições tratam de adivinhar, entre nós, secretos pendores
“bolivarianos”!
O candidato tucano Aécio
Neves bem que tentou caprichar, tonitruando que um tsunami varrerá os petistas
do poder. Mas sempre tem um espírito de porco, como Ricardo Melo, para detonar
rompantes inspirados pelo fragor da batalha: “Em lugar de propostas, metáforas
mal construídas que começam com brisa, crescem para ventania e acabam em
tsunami. Talvez porque Minas não tenha acesso ao mar.” E quem diz que o Lula ia
perder a levantada de bola? Mandou de bicuda: “Por que não colocam o tsunami
deles para abastecer o sistema Cantareira?”
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