segunda-feira, 8 de junho de 2015

De Copa a Cantareira

17 de junho de 2014
por José Pedro Antunes

Quase impossível não falar em futebol. Ufa! E os estrangeiros só podiam estar encantados com o país, a acolhida, o bom-humor, a cordialidade, a alegria contagiante, a ginga, essas coisas todas que sempre nos distinguiram no concerto das nações. Quanto ao que acontece nos gramados, resistir quem há de? É chuva de gols. O primeiro empate, um modorrento zero a zero, só aconteceu no jogo de número 13, frisava o comentarista, sem saber muito bem o que auferir da numerologia. Para o ex-boleiro inglês Gary Lineker: “Todos os jogos têm sido formidáveis. Se até a Suíça conseguiu divertir, será realmente um torneio infernal.” Tradutor inspirado esse. “Formidável” não é qualquer um que arranca do limbo assim, sem mais.

E como em época de Copa muito se aprende sobre o país e as cidades-sede, a estreia da seleção dos Estados Unidos na capital do Rio Grande do Norte terá sido, se não mera, uma feliz coincidência. A cidade foi base militar americana durante a Segunda Guerra Mundial. De acordo com Luis Eduardo Suassuna, professor de história da UFRN: “Muitos costumes americanos foram incorporados pela população de Natal. Aqui foi a primeira cidade do Brasil a ter Coca-Cola, chicletes, calça jeans.”

Para além da decepção com o “exoesqueleto”, 16 segundos para quase não ser visto, é uma enormidade o que se fala em “esqueletos”. Parece que nos armários dos partidos políticos o difícil mesmo é encontrar algo que não seja. Impressionável, um articulista alemão vê surgir, nos movimentos anti-Copa, “um novo ícone”: um boneco com uma caveira gigante “atarraxada no lugar da cabeça”. Mas não é hora de fazer a caveira da tecnologia. Ela teve, sim, o seu grande momento. Pela primeira vez na história do futebol mundial, em contraste com a indevassável opacidade na atual condução de sua entidade máxima, um gol foi validado por um tira-teima high-tech. E posto que uma decisão errônea sempre arde no dos outros, a manchete não fez por menos: “Entrou ou não?” Falta agora bolar algo que meça a dramaticidade em quedas de atacantes na zona do agrião.

Mas nem todo estrangeiro volta para casa tão deslumbrado com o que viu. Aqui uma anotação do compositor americano John Cage, em 1985, citada por Jocy de Oliveira: “Ao chegar a São Paulo, levaram-me a um concerto sem pé nem cabeça de um homem barbudo, de longos cabelos brancos, tocando uma música que doía nos ouvidos de tão forte, e após esse desastre ainda me arrastaram para comer uma comida preta chamada feijoada!” O leitor terá adivinhado? Era ele mesmo, o albino Hermeto em ação.

Quando a Jovem-Guarda passou a suplantar a Velha-Guarda, a cantora Marlene, da “Média-Guarda”, passou a atuar em peças de teatro. Outro dia li o anúncio de uma apresentação da Zezé Motta, que, pelo caminho inverso, se encaixa nesse perfil, que um projeto toscamente chama de “cantriz”. Eu ainda fico com “cantatriz”, neologismo que, mesmo sem ser lá grande coisa e sem ter entrado efetivamente em uso, ao menos preserva as raízes que nele se conjuminaram.

Para quem pretende reconstruir a confiança com o Brasil, dizer que a Venezuela “é um caso emblemático de enfraquecimento das instituições democráticas” não é um bom começo de papo. Pois ninguém avisou o vice-presidente americano. Hey, Joe! Justo quando as oposições tratam de adivinhar, entre nós, secretos pendores “bolivarianos”!


O candidato tucano Aécio Neves bem que tentou caprichar, tonitruando que um tsunami varrerá os petistas do poder. Mas sempre tem um espírito de porco, como Ricardo Melo, para detonar rompantes inspirados pelo fragor da batalha: “Em lugar de propostas, metáforas mal construídas que começam com brisa, crescem para ventania e acabam em tsunami. Talvez porque Minas não tenha acesso ao mar.” E quem diz que o Lula ia perder a levantada de bola? Mandou de bicuda: “Por que não colocam o tsunami deles para abastecer o sistema Cantareira?”



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