6 de janeiro de 2014
por José Pedro Antunes
por José Pedro Antunes
Três textos em gestação foram atropelados por similares nos
últimos dias. Um deles tentando demonstrar que 2013 já pode ser dado como ano
findo. Célere, de efeméride em efeméride, de ameaça em ameaça, vai desembocar
em luzinhas chinesas, meigos veadinhos de jardim, jingobéis e fogos de
artifício, que já estarão a anunciar o etc. etc. etc.
Hoje, 6 de janeiro, um articulista defende que se atribuam
aos congestionamentos paulistanos os nomes dos responsáveis pelas obras que
lhes deram ensejo. Eu quisera ter sugerido que lombadas e semáforos
passassem a atender pelos nomes dos autores dos projetos.
E um terceiro artigo era para um passeio, à moda do Ruy
Castro, pelas enciclopédias virtuais. Sei lá, encasquetei com o ano de 1928,
que passei a cantar como tema instigante para um trabalho acadêmico. Não só por
pródigo em acontecimentos notáveis, como por ter sido a antevéspera do fim de
um mundo até ali conhecido, a 2ª. Guerra Mundial. Pois não é que alguém acaba
de fazer o mesmo com o ano de 1913? Justamente o ano que antecedeu a primeira
conflagração mundial. 1913 e 1928. Anos de muito, vésperas de nada muito
auspicioso.
Vale anotar que 1928 foi um ano bissexto, de 366 dias. Se não
anima saber que nascia Idi Amim Dada, alguns julgarão de bom presságio o
nascimento de um Andy Warhol. Enquanto o adolescente Rubem Braga escrevia
crônicas para o Correio do Sul em Cachoeiro do Itapemirim, Tarsila do Amaral
lançava “O Abaporu” e criava, com Oswald de Andrade e Raul Bopp, o Movimento
Antropofágico e a Revista de Antropofagia. Nesta, um poema esquisito dizendo
que no meio do caminho tinha uma pedra e que tinha uma pedra no meio do caminho.
Ano do Segundo Manifesto do Surrealismo (fim do ciclo das
vanguardas históricas?), a dividir espaço com produções de jovens promissores
como Fritz Lang, Hitchcock, Jean Epstein, Ernst Lubitsch, Jean Renoir e Erich
von Strohheim, chegavam às telas obras-primas como “O homem das novidades” [The
Cameraman], de Buster Keaton, “O Circo”, de Charles Chaplin, e “Um cão
andaluz”, de Buñuel e Dali.
Recém-chegados ao mundo, Roger Vadim, Maurício do Valle,
Jacques Rivette, Sara Montiel, Karlheinz Böhm, Alan J. Pakula, Shirley Temple,
Agnès Varda, James Coburn e Ennio Morricone só saberiam bem mais tarde do
lançamento de “Outubro”, de Serguei Eisenstein, do Oscar para “Wings”, da
aparição de Mickey Mouse (“Steamboat Willie”), da travessia do Atlântico por Amelia
Earheart, da chegada dos primeiros filmes sonoros e da criação do primeiro
serviço analógico de tevê nos EUA.
Foi o ano do nascimento de Gabriel Garcia Marquez, Che
Guevara e Noam Chomsky, como foi o ano do poema “A Tabacaria” (Fernando
Pessoa), dos romances “Nadja” (Breton) e “A Bagaceira” (José Américo de
Almeida), do “Martim Cererê” (Cassiano Ricardo), da “Ópera de 3 Vinténs”
(Brecht e Kurt Weill) e de “Rua de Mão Única” (Walter Benjamin).
Se o Nobel de Literatura foi para Sigrid Undset (África do
Sul), o da Paz não foi atribuído, e um certo Adolf Hitler readquiria o direito
de falar em público perdido em 1924. Fundavam-se a Opus Dei e a Escola de Samba
Estação Primeira de Mangueira. Terão celebrado a descoberta da Penicilina?
Enquanto Benny Goodman gravava, nos EUA, seu primeiro disco (“Wolwerine
blues”), aqui vinham ao mundo Miltinho, Francisco Carlos, Noite Ilustrada,
Ângela Maria, Canhoto da Paraíba, Ivon Curi e Luís Vieira.
Mas não se inquiete o leitor araraquarense: Claro, foi o ano
do “Macunaíma”! Mas também da “Morfologia do Conto Maravilhoso”, de Vladimir
Propp. E por falar em coincidências, enquanto eu repassava os jornais e
repensava os meus temas, reparei que a decoração do Café da Copenhague
(Shopping Jaraguá) ostenta um: “Desde 1928”. Que me recordou ter
visto, há tempos, no caminhãozinho do nosso Mazzaropi, o da
borracharia, uma placa informando o ano de fabricação: 1928.
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